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​Mulheres: Raízes da Conexão, 2022
CHOQUE CULTURAL - São Paulo, SP
curadoria: Renata Felinto

Prêmio Histórico de Realização Em Artes Visuais 

Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo

Catálogo da exposição

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Texto Curadoria

 

Terra é Ancestralidade:

A cidade feminina e suas marcas na cidade


 

Na mitologia iorubana, Nanã, orixá experiente e madura, não é a criadora da humanidade, mas é ela quem fornece o barro para que seres humanos tenham suas corpas modeladas por Oxalá, que além disso nos fornece  o sopro da vida.

Na terra estão gestadas nossas histórias, dela saem nossos alimentos primordiais, para ela retornamos no fim da vida com o barro devolvido à Nanã que nutre o solo para dele emergirem outras vidas.

É sobre esse ciclo fundado na existência matérica e espiritual feminina que nos falam as produções recentes de Soberana Ziza, com o acréscimo de que essa mitologia se desloca do plano espiritual para o urbano, e se converte em obras de arte a partir de várias criações artísticas que investigam histórias do povo negro pela cidade de São Paulo.

Nascida e crescida na Zona Norte, lugar conhecido por ser um importante aquilombamento formado no pós-abolição, com uma marcante presença sociocultural do povo preto, a artista apresenta suas obras pelas ruas e espaços culturais de São Paulo há mais de uma década.  

Com a exposição individual Mulheres: raízes da conexão, Prêmio em Artes Visuais do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo, pelo Histórico de Realização, Soberana Ziza explora outras linguagens para além da pintura mural e em tela, experimentando novas técnicas e pesquisando a história das mulheres negras na capital paulistana.   

Ao longo de meses a artista gestou e ativou trabalhos que desenvolveu em performance, pintura sobre diversos suportes, lambe lambe, objetos e filme realizando uma cartografia artística sobre as contribuições das nossas antepassadas para a edificação da história de São Paulo.

Uma das primeiras obras ativadas para a exposição foi Fragmentos do Apagamento,  intervenção performática realizada no bairro da Liberdade, que rememora a biografia do soldado Francisco José das Chagas. No ano de 1821, Chaguinhas, como era conhecido, foi condenado ao enforcamento no Largo da Forca, local de punição às pessoas acusadas de crimes. Sua condenação se deu devido à sua liderança na revolta que exigia o pagamento de salários a um grupo de trabalhadores. No entanto, na ocasião do seu enforcamento a corda arrebentou três vezes e, para as pessoas que assistiam à punição esse foi um sinal sagrado de sua inocência e da injustiça que estava sendo cometida. O rompimento da corda impulsionou a multidão a bradar por “Liberdade!”. 

Ele reconquistou a sua liberdade e foi carregado por populares para a Capela dos Aflitos que, mantinha ao lado um cemitério no qual estão restos mortais de pessoas pretas que foram sepultadas sem cerimônia fúnebre. Hoje Chaguinhas é cultuado ela comunidade preta da região e o sucedido notado como mostra do sagrado.

Ao realizar a sua performance buscando revelar a importância  desses eventos para as narrativas pretas paulistanas, Soberana Ziza realiza uma reintegração de posse da memória desse território, intervindo no espaço público com imagens pintadas em tecidos translúcidos que apresentam mapas, as imagens e inscrições que nos mostram como a história opera a partir de justaposição, supressão, revelação de fatos que se sobrepõem uns aos outros, evidentemente que, em geral,  conservando a perspectiva do grupo dominante.

O registro fílmico dessa ação é exibido na Galeria Choque Cultural como testemunha dessa revisão, assim como a artista reúne a série de objetos Entre a transparência refaço o passado na qual experimenta a translucidez por meio da sublimação para realizar o jogo poético entre o que as imagens nas obras revelam e o que a história encobre. 

A exposição Mulheres: raízes da conexão, se estende ao Espaço Preta Hub, situado no Centro Antigo, configurando-se como um convite à redescoberta da historicidade preta enraizada em terras paulistas, que se efetiva por meios das andanças que estão propostas no roteiro artístico percorrido por Soberana Ziza em seu processo de pesquisa e de elaboração de suas obras. 

Com sua exposição individual, que assim como as narrativas orais se disseminam e se aprofundam em múltiplas paragens, Soberana Ziza enlaça os frutos semeados pelas nossas mais velhas e os distribui por meio de narrações artísticas que saúdam as existências das que pisaram neste território antes, das que pisam no agora e das que pisarão em breve.

 

Renata Felinto

Curadora

​Mulheres: Raízes da Conexão, 2022
PRETA HUB - Sao Paulo, SP
curadoria: Renata Felinto

Prêmio Histórico de Realização Em Artes Visuais 

Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo

Texto Curadoria

Terra é Ancestralidade:

A cidade feminina e suas marcas na cidade


 

Na mitologia iorubana, Nanã, orixá experiente e madura, não é a criadora da humanidade, mas é ela quem fornece o barro para que seres humanos tenham suas corpas modeladas por Oxalá, que além disso nos fornece  o sopro da vida.

Na terra estão gestadas nossas histórias, dela saem nossos alimentos primordiais, para ela retornamos no fim da vida com o barro devolvido à Nanã que nutre o solo para dele emergirem outras vidas.

É sobre esse ciclo fundado na existência matérica e espiritual feminina que nos falam as produções recentes de Soberana Ziza, com o acréscimo de que essa mitologia se desloca do plano espiritual para o urbano, e se converte em obras de arte a partir de várias criações artísticas que investigam histórias do povo negro pela cidade de São Paulo.

Nascida e crescida na Zona Norte, lugar conhecido por ser um importante aquilombamento formado no pós-abolição, com uma marcante presença sociocultural do povo preto, a artista apresenta suas obras pelas ruas e espaços culturais de São Paulo há mais de uma década.  

Com a exposição individual Mulheres: raízes da conexão, Prêmio em Artes Visuais do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo, pelo Histórico de Realização, Soberana Ziza explora outras linguagens para além da pintura mural e em tela, experimentando novas técnicas e pesquisando a história das mulheres negras na capital paulistana.   

Ao longo de meses a artista gestou e ativou trabalhos que desenvolveu em performance, pintura sobre diversos suportes, lambe lambe, objetos e filme realizando uma cartografia artística sobre as contribuições das nossas antepassadas para a edificação da história de São Paulo.

Investigou espaços históricos de protagonismo negro na capital paulistana cujos acontecimentos são pouco conhecidos por parte das gerações mais jovens. Dentre esses locais, investigou o Largo da Memória, fundado em 1814 e ladeado pelo chafariz que era ponto de parada e de abastecimento de água de tropeiros e local de trabalho de lavadeiras. 

No logradouro onde também eram comercializadas pessoas escravizadas, havia intensa circulação de informações e de indivíduos o que eleva o mesmo a um marco da memória social afro-paulistana. Soberana Ziza pesquisou essa narrativa bem como incorporou em seus trabalhos elementos gráficos presentes nos azulejos que revestem a parede do chafariz. 

No Espaço Preta Hub, fixado literalmente ao lado do Largo da Memória, estão as obras cuja temática está circunscrita aos acontecimentos da região do entorno, como os lambe lambes e o filme que tratam da memória de Madrinha Eunice, fundadora da mais antiga escola de samba em atividade na cidade: a Lavapés, de 1937.  Assim como Madrinha Eunice é uma mulher preta empreendedora cultural, o Espaço Preta Hub também é fruto do empenho de Adriana Barbosa, pioneira na articulação entre redes pretas de economia criativa.

É possível conhecer as obras que abordam as memórias históricas e experimentos criativos que tratam desse presença feminina e negra na região do Centro Antigo, e que nos revelam a marca indelével das mulheres negras para a edificação da cidade de São Paulo.

 

A exposição Mulheres: raízes da conexão, se estende à Galeria Choque Cultural, situada no Jardim Paulistano, configurando-se como um convite à redescoberta da historicidade preta enraizada em terras paulistas, que se efetiva por meios das andanças que estão propostas no roteiro artístico percorrido por Soberana Ziza em seu processo de pesquisa e de elaboração de suas obras. 

Com sua exposição individual, que assim como as narrativas orais se disseminam e se aprofundam em múltiplas paragens, Soberana Ziza enlaça os frutos semeados pelas nossas mais velhas e os distribui por meio de narrações artísticas que saúdam as existências das que pisaram neste território antes, das que pisam no agora e das que pisarão em breve.

 

Renata Felinto

Curadora

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